segunda-feira, junho 07, 2004

Dormir

Era, pelo menos, o que eu achava que ia conseguir. E, a cada minuto que olho para os números vermelhos, luminosos na escuridão do quarto, o tempo parece correr mais depressa. E esqueço-me de onde estou, que dia é, onde vou ter de estar daqui a umas horas. Esqueço-me até que não são os teus lábios nem a tua mão que me acariciam a pele. É, afinal, apenas o lençol. Esqueço-me de mim, porque no fundo, sei sempre que o teu corpo abandonado num qualquer sonho feliz onde pudéssemos verdadeiramente estar juntos não está aqui. Não tenho o teu corpo esmagado contra o meu, os teus braços à volta de mim, enquanto adormecemos. O meu ombro não te serve hoje de almofada. E limito-me a esperar que o sono chegue, com promessas de melhores ilusões, com a sua agradável inconsciência, a espaços imaginativa, que me permita a fuga para onde nos podemos encontrar. Onde não temos limites e podemos ser aquilo que quisermos.

Mas já sei que, ao acordar, não será com os teus beijos. E a primeira coisa que verei não será o teu ar divertido com os meus resmungos pelas cócegas que o teu cabelo me faz.

Depois, na noite seguinte, começa tudo de novo para mim. Para ti, provavelmente não.