Há pontos de vista diferentes
Há pontos de vista diferentes, tal como há lados diferentes nas guerras. O que não quer dizer, necessariamente, que os dois lados de uma guerra tenham pontos de vista diferentes. Mas há pontos de vista diferentes. Todos os dias, já próximo do trabalho, há um cavalo que está sempre a roer umas ervas junto à vedação, que dá para a estrada. Todos os dias, ao sentir a minha aproximação, levanta a cabeça. E quase todos os dias imagino o que é que lhe passa pela cabeça. Qual é o ponto de vista dele, afinal? O meu é simples, é puro raciocínio e memória visual. Todos os dias o vejo. Todos os dias me lembro que todos os dias o vejo. Todos os dias penso “és bonito, pá!”, porque ele o é, de facto. Castanho, com um tom uniforme. E o vento parece moldar a crina dele sempre da mesma maneira. Faz-me lembrar o penteado um rapaz com quem me cruzo regularmente. Acabo por me rir perante esta ideia, “afinal o gajo tem é um penteado equestre!”.
Mas giro, giro é o potro que está num outro campo, não muito longe. Tem ainda um pêlo muito clarinho, castanho. Contrasta bem com o verde das oliveiras e o vermelho dos arbustos. Deve ter aí um metro de altura, pelo garrote. Ainda é um pouco descoordenado. Mas é engraçado, gosta de correr em círculos e voltar para junto da mãe. Se tudo correr bem, hei-de vê-lo crescer de ano para ano.
Normalmente, os últimos que cumprimento antes de chegar ao trabalho são três póneis, dois quase pretos e outro com manchas brancas, mais parece um bezerro. Estes três são mais pachorrentos, limitam-se a roer tufo atrás de tufo de ervas. Só quando passo mais devagar se dignam a levantar ligeiramente a cabeça. Mesmo assim, com aquela crina toda e de tão baixos que são, não acredito que vejam muito mais do que a porta do carro e as rodas. É diferente, o ponto de vista deles. Tal como o dos bois lado a lado com o parque de estacionamento do Ecomarché.
Mas giro, giro é o potro que está num outro campo, não muito longe. Tem ainda um pêlo muito clarinho, castanho. Contrasta bem com o verde das oliveiras e o vermelho dos arbustos. Deve ter aí um metro de altura, pelo garrote. Ainda é um pouco descoordenado. Mas é engraçado, gosta de correr em círculos e voltar para junto da mãe. Se tudo correr bem, hei-de vê-lo crescer de ano para ano.
Normalmente, os últimos que cumprimento antes de chegar ao trabalho são três póneis, dois quase pretos e outro com manchas brancas, mais parece um bezerro. Estes três são mais pachorrentos, limitam-se a roer tufo atrás de tufo de ervas. Só quando passo mais devagar se dignam a levantar ligeiramente a cabeça. Mesmo assim, com aquela crina toda e de tão baixos que são, não acredito que vejam muito mais do que a porta do carro e as rodas. É diferente, o ponto de vista deles. Tal como o dos bois lado a lado com o parque de estacionamento do Ecomarché.