domingo, outubro 31, 2004

Gelo

O álcool tem propriedades estranhas, de facto. Conseguiu até fazer-te quebrar o gelo que sempre te rodeia. Ontem foste etilicamente simpática. Mas outra das propriedades singulares do álcool é o avivar da memória. Também te deu para isso. Surpreendeu-te assim tanto que eu me lembrasse perfeitamente do teu nome? Se pensares bem, é lógico que assim seja. Crescemos, por força das circunstâncias, lado-a-lado. Fomos sendo "obrigados" a uma qualquer espécie de convívio. E tu nunca gostaste de mim. Nem eu de ti. E sempre foi bem assumido, pela forma como sempre nos olhámos, mesmo aos 5 anos.

Sempre percebi que és de uma arrogância enorme. Toda a gente te presta vassalagem, sempre prestou, desde que ainda andavas nos mesmos colos que eu. Isso fez sempre de ti uma miúda distante. Cresceste snob, habituada a mandar e desmandar. E foste aprendendo a fazer isso com os homens, depois, não foi?
Porque não gostas de mim, não sei exactamente. Provavelmente, há algo no meu comportamento que sempre te irritou. Ou então, simplesmente não gostas de mim porque não. Acho, no entanto, que seguramente cedo percebeste que eu nunca te dei espaço para me tornares mais um a louvar-te. E isso irrita-te profundamente, não é?

Não me convences. Eu não sou e não vou ser o teu "Tiaguinho", percebes? Porque moço de recados nunca gostei de ser. Além disso, esse teu sorriso nunca me enganou. É o mesmo que tens numa fotografia de escola, que tiraste contrariada. É o que usas sempre que queres obter alguma coisa. Surpreender-te-ia, se soubesses como te conheço. E nem me lembro de alguma vez termos trocado mais que 3 palavras...