domingo, agosto 21, 2005

Wrong connections

Uma pessoa sai de casa na maior das inocências e vai beber um copo. É Sábado à noite, o que é que se faz num Sábado à noite? Bebe-se um copo. Ou dois. Ou os que tiverem de ser, isso não importa. A menos que tenha algo de mais importante a fazer. Mas isso também não impede que se beba um copinho na mesma. De preferência, em boa companhia.

Entro à porta e, ainda o primeiro gole da cerveja está na sua rota descendente, uma voz familiar chama por um nome ainda mais familiar. É o meu. Viro-me e à minha frente, S. olha-me por trás das lentes de contacto que sei que passou a usar pelos complexos que os óculos lhe causavam. A conversa de circunstância sobre o calor e o fumo dos fogos que se faz sentir por todo o lado e torna a Lua num disco vermelho quase imperceptível fazem com que perceba porque não fomos além de 3 meses de um relacionamento superficial, um acordo tácito de não-agressão.

Percebo, ao olhar sobre o ombro dela, que na mesma mesa está P. "É uma conspiração!", penso, enquanto de relance o sorriso de V. me avisa que não estou sozinho. Que alguém ali percebe o que me está a passar pela cabeça e percebe as motivações que me levaram a tomar as atitudes que tomei no passado. Declino da forma menos afoita que me é possível o lugar que me oferecem à mesa. Era o que faltava, oferecer-me de bandeja aos carrascos!

P. nunca percebeu o que nos aconteceu. Ou melhor, o que não nos aconteceu. O que nunca fomos e o que nunca poderíamos ter sido. Talvez por isso o seu olhar seja ainda hoje uma mistura de falso desprezo com raiva orgulhosa que a convence tão pouco quanto a mim.

Uma discreta cotovelada amiga, bem mais tarde, avisa-me para outra presença. Not again! "Olá, já não te via há algum tempo, eu também não, pois, deixaste de aparecer por lá, tenho tido pouco tempo" e é novo sorriso de relance que me salva de explicações que não quero dar, conversas que não quero ter.

É ao fim da noite que a piada surge, inevitavelmente, "Hoje organizaste aí uma convenção, ou quê?". Tal como tu, aqui há uns dias, estás lembrada? E acabamos a noite com um sorriso cúmplice de quem sabe bem mais que qualquer outra pessoa à nossa volta e tira prazer da sua própria ambiguidade aos olhos dos outros.