sábado, junho 26, 2004

Crónica de uma morte anunciada

Este golpe de teatro que nos serviram em ressaca de jogo de grandes emoções deixa-me de rastos. Realmente, num teste feito aqui há uns tempos, eu era considerado como um conspiracy nut. Se calhar, é mesmo verdade, já que nada consegue fazer-me evitar pensar que a escolha de tais timings para anunciar esta fuga cobarde de Durão Barroso se regeu por critérios futebolísticos. Já agora, senhor futuro-ex-Primeiro-Ministro, se a Selecção perdesse, como é que anunciaria essa sua decisão ignóbil? Tentaria convencer-nos que, para vingar a derrota frente à Inglaterra, iria ganhar a algum inglês na corrida à presidência da Comissão Europeia?

Sinceramente, irrita-me solenemente o "sorrisinho-Durão". Mais me irrita quando, após dois anos a defender, com unhas, dentes e mentiras descaradas, um modelo, um projecto de governação, desiste dele, para fugir em busca de glórias e tachos de maior prestígio. Mesmo não concordando com nada do que este governo tenha feito, quem defende tão acerrimamente um projecto, ao abandoná-lo apenas por interesse pessoal (e não me venham com essa merda do prestígio, que bem diz o BdE, ao perguntar o que terá ganho a Itália com a presidência de Romano Prodi!), demonstra, afinal, ser exactamente aquilo que é (e que tantas vezes dissemos ser):
um cobarde, um vigarista, um agiota em busca de glória pessoal, um amigo dos "arranjinhos internos", em suma, uma pessoa sem o mínimo de pingo de moralidade para exigir ao povo português seja que tipo de sacrifício for!
Pior, um burlão demagogo, ao utilizar o discurso de forma distorcida a seu favor. Não era candidato, mas afinal não recusaria um convite, não é, senhor Durão?
E mais uma prova do seu carácter burlão, António Guterres também esteve numa situação que lhe permitiria, quiçá, aceder a esse mesmo cargo. Recusou o convite. Venha lá agora acusar o anterior governo de cobardia e de ter fugido às suas responsabilidades perante o país, Dr. Durão Barroso!

O pior de tudo isto, obviamente, não é facto do governo deixar de contar com tal figura. Até porque, seja qual for o elemento que deixe este governo, não há motivos para ter saudades ou pena. Qualquer um que se vá embora só nos faz um favor. Excepto se for para derrubar e cuspir de vez na cara da Democracia, como se prepara para, mais uma vez, fazer este governo. No dia em que Santana Lopes for Primeiro-Ministro, sem antes esta escolha ser ratificada pelo povo português, será para mim o canto do cisne da Democracia portuguesa. Pelos vistos, será já dentro de alguns dias. No dia em que Santana Lopes se tornar Primeiro-Ministro por portas travessas, duas semanas após um resultado eleitoral que castiga duramente a coligação governamental, o culpado de tudo isto será, também, Jorge Sampaio.
É por isso que sigo a sugestão do Barnabé: