isabel
De vez em quando, lá vou tendo uma surpresa. Hoje, antes de sair do trabalho, verifiquei o e-mail. Foi por isso que estranhei quando, 15 minutos mais tarde, ao chegar a casa, chegou uma mensagem. Surpreendido, só fiquei quando vi quem era o remetente. "a Isabel? o que é que lhe deu?!"
conheci a isabel em frança. um dia, mais ou menos a meio do período que lá passei, desci da gruta e vi alguém de volta de uma tenda, mesmo em frente à minha. sinceramente, não gostei. sempre tinha tido algum espaço em frente à porta e o parque estava meio-cheio, por isso ela podia ter escolhido todo e qualquer lugar. tinha de ser a 50 cm da porta da minha tenda?! cheguei ao pé dela e lembro-me que a primeira coisa que vi foi uma rapariga vermelha que nem um tomate, a esofrçar-se por enfiar as espias da tenda num chão duro como tudo. cheguei ao pé dela e comecei a falar-lhe em português, sem sequer saber a nacionalidade dela. era normal. tinha a mania de mandar os franceses para sítios fabulosos, em português, quando me chateavam, sempre com o meu melhor sorriso. surpresa, a isabel, como se apresentou imediatamente, percebeu tudo. perguntei de onde era, o sotaque era-me pouco familiar. "de réus" "ah, espanhola..." o olhar que me atirou fez-me perceber que "espanhola" não era classificação de que gostasse...
lembro-me que a primeira coisa que me chamou a atenção foi a voz da isabel. doce, parecia que nos embalava, com uma entoação que nos envolvia por completo. a pele muito branca, os olhos azuis, contrastantes com o cabelo preto e o sorriso sereno constante, vi-os logo a seguir, quando finalmente se levantou e nos cumprimentámos.
logo nessa noite conversámos horas a fio. ela perguntava-me sobre o trabalho ali, visto que eu já lá estava há algum tempo. e deliciava-se a ouvir todos os detalhes, justificando o esforço que eu fazia em dar às histórias que lhe contava um toque ainda mais engraçado do que eram já de origem. at love and war... enfim, fosse como fosse, não passávamos despercebidos. afinal, ali cada cara nova era sempre analisada pelo clã. e, se estava a falar com o elemento mais antigo desde que tinha chegado, mais atenção chamava ainda. lembro-me de subir na manhã seguinte, com o david e o tito. fui gozado todo o tempo, ninguém acreditava que não tínhamos dormido na mesma tenda.
Alguns dias mais tarde, numa festa na margem do Verdouble, uma série de olhares cruzados levou a que nos encontrássemos na outra margem, quando toda a gente já se atirava à água, bem alta ia a noite. sem sabermos bem porquê, sentámo-nos no banco de areia que havia a meio do leito e acabámos por nos beijar. e, de facto, nessa noite já não dormimos em tendas separadas. nem nas seguintes. no entanto, eu sabia que não queria nada de sério. e a isabel, com a doçura habitual, tranquilizou-me quando acordei na manhã seguinte e ela estava a olhar para mim. "somos amigos con derecho a roce".
não fui correcto com ela, algum tempo mais tarde. envergonhei-me na altura e ainda hoje penso nisso. o facto é que, depois de uma semana quase sem nos falarmos, não resisti na despedida e fui falar com ela, sentia-me como se o mundo me tivesse caído em cima dos ombros. e mais uma vez ela me tranquilizou com o seu olhar, a sua voz e um beijo que sei que nunca mais esquecerei.
ao longo do tempo, temos mantido um contacto regular, mas espaçado. a última vez que tive notícias dela foi há alguns meses, já. dizia-me que a vida sentimental dela, na altura que a conheci, muito complicada, tinha acalmado, que iria viver com um entretanto conhecido rapaz, por quem se apaixonara. alguém calmo, bom, sincero, dizia ela.
hoje, voltou a escrever-me, apenas para saber notícias minhas, pois seguramente estaria muito ocupado com trabalho. pura mentira, isabel, eu é que, afinal, depois de tudo isto, não aprendi nada contigo. e continuo a não tratar como merecem algumas pessoas que gostam de mim e se preocupam comigo.
Desculpa, querida isabel. mais uma vez te magoo, mesmo à distância. e mesmo que não o saibas.
conheci a isabel em frança. um dia, mais ou menos a meio do período que lá passei, desci da gruta e vi alguém de volta de uma tenda, mesmo em frente à minha. sinceramente, não gostei. sempre tinha tido algum espaço em frente à porta e o parque estava meio-cheio, por isso ela podia ter escolhido todo e qualquer lugar. tinha de ser a 50 cm da porta da minha tenda?! cheguei ao pé dela e lembro-me que a primeira coisa que vi foi uma rapariga vermelha que nem um tomate, a esofrçar-se por enfiar as espias da tenda num chão duro como tudo. cheguei ao pé dela e comecei a falar-lhe em português, sem sequer saber a nacionalidade dela. era normal. tinha a mania de mandar os franceses para sítios fabulosos, em português, quando me chateavam, sempre com o meu melhor sorriso. surpresa, a isabel, como se apresentou imediatamente, percebeu tudo. perguntei de onde era, o sotaque era-me pouco familiar. "de réus" "ah, espanhola..." o olhar que me atirou fez-me perceber que "espanhola" não era classificação de que gostasse...
lembro-me que a primeira coisa que me chamou a atenção foi a voz da isabel. doce, parecia que nos embalava, com uma entoação que nos envolvia por completo. a pele muito branca, os olhos azuis, contrastantes com o cabelo preto e o sorriso sereno constante, vi-os logo a seguir, quando finalmente se levantou e nos cumprimentámos.
logo nessa noite conversámos horas a fio. ela perguntava-me sobre o trabalho ali, visto que eu já lá estava há algum tempo. e deliciava-se a ouvir todos os detalhes, justificando o esforço que eu fazia em dar às histórias que lhe contava um toque ainda mais engraçado do que eram já de origem. at love and war... enfim, fosse como fosse, não passávamos despercebidos. afinal, ali cada cara nova era sempre analisada pelo clã. e, se estava a falar com o elemento mais antigo desde que tinha chegado, mais atenção chamava ainda. lembro-me de subir na manhã seguinte, com o david e o tito. fui gozado todo o tempo, ninguém acreditava que não tínhamos dormido na mesma tenda.
Alguns dias mais tarde, numa festa na margem do Verdouble, uma série de olhares cruzados levou a que nos encontrássemos na outra margem, quando toda a gente já se atirava à água, bem alta ia a noite. sem sabermos bem porquê, sentámo-nos no banco de areia que havia a meio do leito e acabámos por nos beijar. e, de facto, nessa noite já não dormimos em tendas separadas. nem nas seguintes. no entanto, eu sabia que não queria nada de sério. e a isabel, com a doçura habitual, tranquilizou-me quando acordei na manhã seguinte e ela estava a olhar para mim. "somos amigos con derecho a roce".
não fui correcto com ela, algum tempo mais tarde. envergonhei-me na altura e ainda hoje penso nisso. o facto é que, depois de uma semana quase sem nos falarmos, não resisti na despedida e fui falar com ela, sentia-me como se o mundo me tivesse caído em cima dos ombros. e mais uma vez ela me tranquilizou com o seu olhar, a sua voz e um beijo que sei que nunca mais esquecerei.
ao longo do tempo, temos mantido um contacto regular, mas espaçado. a última vez que tive notícias dela foi há alguns meses, já. dizia-me que a vida sentimental dela, na altura que a conheci, muito complicada, tinha acalmado, que iria viver com um entretanto conhecido rapaz, por quem se apaixonara. alguém calmo, bom, sincero, dizia ela.
hoje, voltou a escrever-me, apenas para saber notícias minhas, pois seguramente estaria muito ocupado com trabalho. pura mentira, isabel, eu é que, afinal, depois de tudo isto, não aprendi nada contigo. e continuo a não tratar como merecem algumas pessoas que gostam de mim e se preocupam comigo.
Desculpa, querida isabel. mais uma vez te magoo, mesmo à distância. e mesmo que não o saibas.