quinta-feira, julho 15, 2004

Autoria moral

Encaminhado pelo Boss, dou por mim a ler uma notícia que, de tão inacreditável a realidade que relata, quase me convence que os julgamentos de mulheres por prática de aborto em Portugal são algo de menor importância.

Há um excerto final que não posso deixar de reproduzir:

Deuzeli Vanines está no topo da lista exibida pelo padre Luiz Lodi da Cruz de mulheres abrigadas na Casa da Gestante, mantida pelo Pró-Vida de Anápolis. "Ah, essa morreu. Deve ter sido descuido médico", diz o padre, indagado sobre o paradeiro da primeira protegida. A história é um pouco mais longa. Em abril de 1996, um homem invadiu a casa de Deuzeli, golpeou-a várias vezes com um caco de espelho, cortou seu cabelo e a estuprou. Por meses ela teve de usar sonda para urinar. Quando se descobriu grávida, foi à Justiça e conseguiu autorização para abortar. Internada no hospital, foi procurada por padres e freiras que a convenceram a ter a criança. Na gravidez, tentou o suicídio duas vezes. Deuzeli tinha epilepsia e as crises pioraram. Concluíram que estava possuída pelo demônio. Foi exorcizada. Quando o bebê também manifestou a doença, a conclusão da mãe foi lógica - a filha também estava possuída. Em dezembro de 1997, ela cortou o cabelo como no dia em que foi estuprada e afogou a filha na banheira. Foi condenada por homicídio. Presa, Deuzeli engravidou "para reparar o mal". Morreu em julho de 1999, depois de sair da cadeia, de convulsões e crise respiratória.

Este padre (?) Luiz Lodi da Cruz acusa sistematicamente os médicos, juízes e promotores favoráveis à antecipação do parto em casos de anomalia fetal de "abortistas", organiza campanhas de difamação contra estes onde, além de serem chamados de assassinos e nazis, são constantemente importunados por elementos do movimento liderado por Lodi da Cruz, com centenas de telefonemas e e-mails.

Depois deste excerto (nem falando no resto da reportagem), quem é o assassino, afinal?!