terça-feira, julho 13, 2004

À margem

A vida nas margens de um rio é diferente. Não pelos bares da moda, ou pelos restaurantes que, regra geral, as várias localidades implantam. Não pelos parques, reflexos de uma qualidade de vida perdida, a cidade nas costas e a poluição no rio pela frente. Disfarce bem grande, esse dos parques, tanto serve para nos tentarem convencer que, de facto se preocupam connosco como para, momentaneamente, fingirmos que não estamos, de facto, imersos na civilização e no seu mar de betão.

A vida nas margens do rio é diferente, dizia, por nos permitir observar como ele próprio funciona organicamente, como se de um gigantesco ser vivo se tratasse. Como, a espaços regulares, o próprio rio se encarrega de nos mostrar como ainda tem uma palavra a dizer sobre a nossa vida, como, por mais tecnologia que tenhamos, há coisas que, pura e simplesmente, não domaremos nunca, de tão selvagens que são. E como, mesmo ao lado dos nossos testemunhos de domínio paisagístico, o lado incontrolado da Natureza teima em surgir e ocupar o seu espaço.

À margem do rio, sentimo-nos, apesar de imóveis, parte de um movimento contínuo de renovação que nos escapa, na maioria das suas nuances. Algures entre montante e jusante, olhamos para ele e perspectivamos a nossa própria pequenez.