terça-feira, julho 06, 2004

M

M sempre me atraíu. Zig-zag contínuo, representação gráfica de uma estratégia da ruptura. M tornou-se uma constante da minha vida, após o ácido clorídrico. Mas um dia M. ganhou outro significado, veio pôr fim a anos de comiseração resignada. A pequena satisfação comezinha acabava, para dar lugar à reabilitação da alma.

O acaso (ou sucessão deles) que pôs M. na minha vida é de tão elevada improbabilidade que me tornou mais predisposto a aceitar aquilo que me vem surgindo sem questionar demasiado, apenas vivendo as coisas como elas são. Ainda hoje me vou tentando habituar a esta ideia, é como aprender algo novo, requer prática.

Com M. não foram precisas as outras letras, nem o milagre resultante da sua junção numa determinada formatação. O olhar ainda é a melhor forma de comunicação. E quando M. me olha, estremeço. M's e W's entrelaçam-se harmoniosamente, como puzzles dinâmicos.

M. faz de mim uma melhor pessoa, um ser humano mais apto a lidar com o mundo. Realça-me virtudes desconhecidas e aligeira-me defeitos. Liberta-me para ser mais atento ao que me rodeia, para não ter medo dos meus sentimentos. M. mostra-me que também eu sou capaz de mostrar aos outros o que sinto por eles, sem medo de mostrar aquilo que sou.

As discussões variadas sempre me deram gozo e quanto mais animadas, melhor. É no calor da discussão que se descobre muita coisa. Também é aí que mais facilmente nascem os mal-entendidos. Com os quais eu e M. lidávamos imediatamente, em esclarecimentos que, pelo tom de voz em que eram proferidos, denunciavam rapidamente a natureza da nossa relação.

Com M., o despertar era uma experiência diferente a cada novo dia, como se cada dia fosse um novo começo, uma nova alvorada dos tempos que ali estava para me saudar, sempre com um sorriso, sempre com uma mão que me acariciava a face, num despertar que era sempre lânguido, cálido na sua ternura. Dava-me alento para sair, encarar o mundo de braços abertos.

Há em M. uma sede de novas experiências que me cativa e completa. Podemos não nos entender sempre, mas basta um olhar para tudo se tornar claro. Todos os assuntos são possíveis, não há limites.

Apenas aqueles que o mundo, tirano, nos impôs, implacável nos seus desígnios, sem contemplações perante os desejos individuais.