segunda-feira, agosto 16, 2004

Berlengas I

Como alguns sabem, fui às Berlengas. Sinceramente, para mim Berlengas era sinónimo de um grupo de rochedos desabitados e de um filme do Artur Semedo, pouco mais. Não podia estar mais enganado!

O começo da viagem foi algo atribulado, ao embarcarmos num autêntico ferry filipino, de tão atulhados vão os barcos maiores que fazem a ligação à Berlenga. No regresso, viria a confirmar-se a tendência terceiro-mundista, mas isso é outra história...

Chegar à Berlenga é chegar a uma ilha de granito avermelhado, com uma vegetação rasteira e milhares de gaivotas (raisparta o pássaro, que nunca se cala!). Constantemente me lembrava d'"Os pássaros", bolas! Uma ilha onde não há água potável, cuja única praia facilmente acessível por terra é um nicho de areia com cerca de 50 m de largura.

O próprio parque de campismo apresenta o mínimo (se tanto) das condições, instalado em socalcos na vertente virada para Peniche, acima da praia, com o topo do farol a espreitar por cima do monte. Mas é dessa falta de condições que é feita a beleza das Berlengas. Lembramo-nos a todo o momento que ali a vida não é feita prioritariamente para nós, mas sim para a própria ilha. Mesmo se algumas derivas turísticas começam a surgir.



Foi a falta de sombras, o Sol abrasador, a rocha avermelhada, a água turquesa, o ar inóspito, o ruído constante das gaivotas, o canto ritmado das pardelas pela noite fora, a escuridão quase total da noite, o céu mais polvilhado de estrelas que já vi, que fizeram das Berlengas o sítio de que precisava, neste momento. Para revalorizar aquilo que tinha esquecido.