domingo, setembro 19, 2004

Há tanto tempo que não me ocupo do jardim

"Há tanto tempo que não me ocupo do jardim
A última vez estava frondoso
A buganvília a tingir-se de vermelho
Trepando o perfume inebriante
E as festas ao cair da tarde
Parece que foram há séculos
Noutra encarnação
Os meus amigos traziam as bebidas
E a jovialidade
O jardim enchia-se de gente
De beijos
Pelos cantos sôfregos de desejo"

Excerto de "O Jardim", Adolfo Luxúria Canibal

Parecem-me séculos, estes dias que nos separam. Parecem-me tempos infinitos, os que me deixam à espera de um sinal teu, de algo que, mais uma vez, me dê o conforto do calor desse teu amor. Tento imaginar aquilo que estás a fazer. Já é noite, para ti. Já é tempo de pensares no amanhã. E no que te promete trazer.

Disse-te uma vez que não te podia prometer nada. Menti-te. Posso prometer-te o que de melhor tenho para oferecer, o que impede que caias na dimensão dos comuns humanos e te oferece a imortalidade que a tua dimensão divina merece. Quero dar-te o que de melhor tenho de mim, também. Memória. Sentimentos.

Nessa marcha ininterrupta, o teu fogo tinge-me de vermelho os sentimentos. Dá-me chama, faz de mim o inverso de quem sou. E, como uma droga, pões-me à espera da próxima dose. Acalma-me apenas saber que, na sua inexorável marcha, os dias apenas correm a nosso favor. Não nos separam 200 dias. Faltam menos 100 para te ter de novo nos meus braços. Na minha boca. Entranhada na minha pele, a tua fragância de orquídeas.