domingo, setembro 26, 2004

Todo o amor se diz num beijo

Para quê as palavras, se todo o amor se diz num beijo? Se tantas vezes o dissemos, com a certeza que só este calor pode dar, para quê as horas que passo nesta catarse daquilo em que me deixaste? Para saber ainda mais profundamente que te amo? Para sentir, no fim, que aliviei algum do vazio que deixas? Nada disto acontece, sabemo-lo ambos. Muito bem. Apenas transporta ainda mais dor, esta sensação de te ter aqui, à distância da minha vontade de te contactar. Mas longe o suficiente para não te sentir, esta noite que te quero a meu lado. Como todas. Levo-te comigo onde vá. Por saber que não te levar seria não levar parte de mim.

E passar os dias a sentir que não estou comigo, que algo falta. A lembrar-me das tuas promessas que sei quereres e poderes cumprir. A saber que, mesmo não te ouvindo dizê-lo, me amas, fazes de mim um objectivo. Algo que não dispensas. E rogo estar à altura daquilo que és.

Fazes de mim aquilo que quiseres. Ou aquilo que te permitires. Mas, nesta condenação feliz, deixa que te faça um último pedido. Quando menos te merecer, ama-me. Será esse o momento em que mais precisarei de ti. Do teu amor. Da tua incerteza firme, segura no turbilhão. Porque sei que então não farás de mim penedo, monstro dos confins da Terra. Lar abandonado à crueldade do Tempo, colina que te olha e anseia pelo abraço da tua margem.