segunda-feira, maio 30, 2005

Aquilo que ainda restava de desconhecido

Cobria-te a almofada a cara, os lençóis o corpo. Por algumas horas, só o teu braço a mexer-se de vez em quando para espantar uma impressão me dizia que estavas ali, viva, em repouso antes de dias de turbilhões inesperados. Só o movimento compassado do teu peito me dava sinal da tua presença junto a mim, naquele quarto que não era meu. Nem teu. Que acabaria por ser nosso. À nossa maneira.

Pensei passar o braço à tua volta, aconchegar-te sonhos cujo teor desconhecia. Pousar a mão na tua cintura, como sei que gostas. Fazer com o calor da minha mão as vezes daquela roupa de cama que caprichosamente tinhas espalhado, deixando-te semi-descoberta. Chegar o meu corpo mais junto ao teu, para ser a primeira coisa que visses ao acordar. Ou então tentar evitar ao máximo que acordasses, deixar que toque e carinho servissem apenas como veículo ao teu sono, sujeitos às interpretações que o teu subconsciente lhes quisesse dar, no seu juízo impenetrável. Já seria feliz com uma reacção adormecida, irracional, fora da lógica dos teus sentimentos e vontade. Pensei em não fazer nada disto, recuei ao pensar que seria talvez aquele o gesto que despoletaria raivas, frustrações, desgostos que tão frescos estavam ainda. E que tão difíceis tinham sido de abonançar. Parei a mão num meio-gesto e fiquei imóvel durante alguns instantes, ponderando o que fazer.

Era aí, entre o sim e o não, que estava quando acordaste repentinamente. Foi nessa indecisão que me surpreendeste. E acreditavas se dissesse que vi nos teus olhos a resposta para quase todas as minhas dúvidas?