quarta-feira, agosto 24, 2005

Falemos de incêndios, pois então!

Portugal arde e arde bem. Os aviões voam e voam muito. Tanto quanto o valor/hora que as empresas que os alugam recebem, pelo menos. Sobretudo quando uma delas conta entre os seus sócios com um ex-ministro da Administração Interna. Curioso, não é?

Perguntava-me ontem do porquê de, mesmo depois de tudo o que se passou neste país nos últimos 3 anos, se continuar todos os anos a viver a mesma situação e - é só impressão minha? - cada vez pior. Os motivos são numerosos, como todos sabemos. No entanto, há uma coisa que me parece cada vez mais evidente. É ridículo como argumento, bem sei. Mas mete-se pelos olhos dentro, tanto quanto o fumo que respiro diariamente há quase uma semana.

Quantas pessoas são directamente afectadas pelos incêndios, mesmo que ardam dois quintos, três quartos da floresta portuguesa? Eu também não faço a menor ideia. Mas apostava aí num número a rondar os 2 milhões de portugueses. E digo mais. Querem uma solução para os incêndios? Querem uma actuação de pulso firme do Estado português, com investimento em equipamentos próprios e uma política de prevenção séria? É simples; incendeie-se a Mata de Monsanto. Faça-se um incêndio chegar às portas de Lisboa e obrigue-se aqueles que, por estes dias, vivem alegremente com a certeza de que ao chegar a casa terão direito a mais um espectáculo dantesco na TV ao género Hollywood (ainda por cima é Agosto e a 2ª Circular até anda mais livre de automóveis...), a viverem o mesmo drama que o país real vive todos os dias. Porque, caso ainda não tenham percebido, boa parte dos portugueses vive nessa área. E para muitos deles, os incêndios são "lá longe, no interior". Já no dia em que Lisboa esteja ameaçada por chamas, podem ter a certeza que todos os planos de emergência serão activados. E 10 Canadairs serão imediatamente encomendados.

Até lá, vamos todos ardendo lentamente entre o autismo desta cidade-estado (perdão, país!) e a corrupçãozeca que rodeia toda esta tragicomédia dos incêndios.