"É também altura de reflectir acerca da Esquerda de todos os dogmas em torno desta."
Pois, Oliveirinha, mas aí reside a grande questão; o que raio é isso de Esquerda? É o PS? Será o PS um partido de Esquerda? Ao contrário do que muitos querem fazer crer de há alguns anos para cá (a maioria deles betinhos, Neo-Cons e jotinhas demasiado ocupados a manter a sua crina estrategicamente colocada em frente da testa), a ideologia não está morta. Para mim, pelo menos, ainda é fácil distinguir Esquerda e Direita. Queres ver?
- um partido de Esquerda não pode promover a discriminação de cidadãos com base em qualquer um dos critérios apontados na Constituição (a tal "treta" do sexo, idade, raça, orientação sexual...);
- um partido de Esquerda não pode ponderar a privatização de serviços básicos ("a paz, o pão, habitação, saúde, educação/só há liberdade a sério quando houver liberdade de pensar e decidir, quando pertencer ao povo o que o povo produzir", remember?);
- um partido de Esquerda não pode achar que a melhor forma de dignificar os seus cidadãos seja, por exemplo, forçar mulheres grávidas a terem os seus filhos indesejados ou a abortarem clandestinamente;
- um partido de Esquerda não pode, no combate a uma crise, aumentar impostos que tocam a todos da mesma forma, de forma cega e arbitrária, penalizando ainda mais as franjas mais frágeis da sociedade, enquanto aqueles que já vivem "à grande" continuam a poder comprar iates e automóveis topo de gama sem que isso seja especialmente taxado;
- um partido de Esquerda não pode concordar com a permanência de situações em que o consumidor paga um imposto sobre outro imposto (como no caso do Imposto Automóvel);
- um partido de Esquerda não pode permitir a continuação do despautério com que se auferem reformas em Portugal após 6 meses de trabalho num cargo público/político ao mesmo tempo que aumenta a idade de reforma para todos os outros cidadãos;
Bem vistas as coisas, se este PS do Sócrates, Coelho, Lello, Costa e afins fosse mais dos (cada vez menos) Ferros e Alegres que por lá vão subsistindo talvez fosse um partido de Esquerda*. Assim, nas suas condições actuais (e caso se confirme que este fax é real), o PS não passa de um partido cada vez mais à Direita, cada vez mais Liberal. Cada vez mais, um grande sapo que vamos engolindo no Governo, pois neste país parecem ser a única alternativa aos Santana Lopes, Marques Mendes, Leonor Beleza, Ferreira do Amaral, Carmona Rodrigues... E, no entanto, eu cada vez vejo menos diferenças!
Serve isto tudo para dizer, Oliveirinha meu caro camarada, que a Esquerda não precisa de se renovar. Neste momento existem forças de Esquerda que se encaixam no retrato que tracei acima. O que é necessário é que este povo se habitue a pensar, primeiro que tudo. Depois, que perceba que não há na Constituição nenhum artigo que indique que os únicos partidos que podem ser governo são os Centrões (isto faz-me sempre pensar em Glutões...). Finalmente, que a Comunicação Social deixe de ser tão evidentemente controlada por meia-dúzia de "amigos deste e daquele" e passe a fazer o seu trabalho de forma limpa, para não voltarmos a ver a vergonha que foi a cobertura desta última campanha.
* Ainda assim, eu provavelmente não votava neles, mas sempre eram um partido bem mais interessante.
- um partido de Esquerda não pode promover a discriminação de cidadãos com base em qualquer um dos critérios apontados na Constituição (a tal "treta" do sexo, idade, raça, orientação sexual...);
- um partido de Esquerda não pode ponderar a privatização de serviços básicos ("a paz, o pão, habitação, saúde, educação/só há liberdade a sério quando houver liberdade de pensar e decidir, quando pertencer ao povo o que o povo produzir", remember?);
- um partido de Esquerda não pode achar que a melhor forma de dignificar os seus cidadãos seja, por exemplo, forçar mulheres grávidas a terem os seus filhos indesejados ou a abortarem clandestinamente;
- um partido de Esquerda não pode, no combate a uma crise, aumentar impostos que tocam a todos da mesma forma, de forma cega e arbitrária, penalizando ainda mais as franjas mais frágeis da sociedade, enquanto aqueles que já vivem "à grande" continuam a poder comprar iates e automóveis topo de gama sem que isso seja especialmente taxado;
- um partido de Esquerda não pode concordar com a permanência de situações em que o consumidor paga um imposto sobre outro imposto (como no caso do Imposto Automóvel);
- um partido de Esquerda não pode permitir a continuação do despautério com que se auferem reformas em Portugal após 6 meses de trabalho num cargo público/político ao mesmo tempo que aumenta a idade de reforma para todos os outros cidadãos;
Bem vistas as coisas, se este PS do Sócrates, Coelho, Lello, Costa e afins fosse mais dos (cada vez menos) Ferros e Alegres que por lá vão subsistindo talvez fosse um partido de Esquerda*. Assim, nas suas condições actuais (e caso se confirme que este fax é real), o PS não passa de um partido cada vez mais à Direita, cada vez mais Liberal. Cada vez mais, um grande sapo que vamos engolindo no Governo, pois neste país parecem ser a única alternativa aos Santana Lopes, Marques Mendes, Leonor Beleza, Ferreira do Amaral, Carmona Rodrigues... E, no entanto, eu cada vez vejo menos diferenças!
Serve isto tudo para dizer, Oliveirinha meu caro camarada, que a Esquerda não precisa de se renovar. Neste momento existem forças de Esquerda que se encaixam no retrato que tracei acima. O que é necessário é que este povo se habitue a pensar, primeiro que tudo. Depois, que perceba que não há na Constituição nenhum artigo que indique que os únicos partidos que podem ser governo são os Centrões (isto faz-me sempre pensar em Glutões...). Finalmente, que a Comunicação Social deixe de ser tão evidentemente controlada por meia-dúzia de "amigos deste e daquele" e passe a fazer o seu trabalho de forma limpa, para não voltarmos a ver a vergonha que foi a cobertura desta última campanha.
* Ainda assim, eu provavelmente não votava neles, mas sempre eram um partido bem mais interessante.