sábado, junho 05, 2004

não chegava o rock in rio e o scolari...

está visto que 2004 é o ano em que os brasileiros têm salvo-conduto para gozar com a cara dos portugueses. já não bastava a ideia de jerico de fazer um rock in rio em lisboa (a publicidade no brasil foi feita de tal formas que muito boa gente daquele lado do atlântico acha que isto foi ideia nossa e que somos completamente doidos). já não chegava termos um seleccionador nacional brasileiro que, até há bem pouco tempo (só?) parecia que andava a gozar perdidamente com portugal e os portugueses. agora, temos um brasileiro na direcção artística da cerimónia de abertura do euro. até aqui, tudo bem. mas tive de me rir quando soube que esta alma iluminada teve a ideia de pôr 800 militares a fazer parte dos figurantes da coreografia inicial.

quem me conhece sabe que não sou grande adepto das forças armadas. aliás, um possível SMO foi um grande incentivo para continuar a estudar, sem perder um único ano. à conta disso, andei cinco anos com uma situação pendente. adiamento à incorporação para prosseguimento de estudos, era o que diziam os papelinhos brancos que recebia todos os anos por correio. à conta disso, o prazo da minha primeira inspecção caducou. à conta disso, tive de fazer em 2003 uma segunda inspecção, descansado por saber que, já licenciado, não seria, quase de certeza, incorporado, visto as minhas habilitações me colocarem no CFO. quem me conhece sabe também que defendo a utilização das forças armadas em tempo de paz, em tarefas junto da sociedade civil. por viver próximo da escola prática de engenharia, tenho um exemplo de uma unidade militar particularmente útil e simpática à população. mas isto choca-me profundamente. nenhum militar que se preze gostará, seguramente, desta nova posição de figurantes que o governo aceita reservar para as forças armadas portuguesas. não acredito que algum oficial goste de ver homens e mulheres que estejam sob o seu comando serem utilizados como figurantes de um espectáculo para todo o mundo, na abertura de um evento que se sabe sorveu e sorve rios de dinheiro a este país e, também, por consequência, às forças armadas. nenhum português com dois dedos de testa gostará certamente de ver que, mesmo depois dos milhões gastos em tudo e mais alguma coisa nesta palhaçada, o governo sanciona o desrespeito pela dignidade de recursos e instituições nacionais, de modo a poupar uns trocos. com tanta gente a abotoar-se no meio deste processo, não tinham mais 50 mil euritos para pagar a figurantes?!