domingo, junho 27, 2004

República

Prometi nunca falar de ti, mas não consigo. Achava que tinha passado tempo suficiente, mas vejo que não. Mas acabaste por vir à baila, em conversa com uma amiga. Expus-te e foi a última traição. Depois de ter traído a confiança que depositaste em mim, numa suposta estabilidade em que te fiz acreditar que tinha. Mas não tenho. E sabes que o desafio era grande. Muito grande. Raras eram as oportunidades para te ver. Poucas as possibilidades de estarmos juntos sem alguém abdicar da sua vida. Ver-te dividida entre mim e os teus objectivos foi a última gota, sabes disso. Saber que ias para mais longe ainda, com fortes possibilidades de ali obteres o reconhecimento que te é devido, que a alternativa era eu, impossibilitando que chegasses onde queres e mereces chegar, fazia-me perceber que não era justo exigir-te isso. Ou mesmo pedir-to, apenas.

“I need to be someone’s somebody”, eu sei. Também eu. Mas só isso não chega para te cortar as asas. Não chega para no futuro ver a tua frustração virada contra mim.

Não posso fugir daqui, sabes disso! Não agora. Mas o futuro já não existe, não é? Fui eu quem assim quis, estavas disposta a resistir, ainda e sempre. Fui eu o derrotado. Desculpa, mas não ultrapassei o desafio. Perdi. E sei que dificilmente voltas a confiar em alguém e que a culpa é minha.

Não procuro substituir-te, isso seria impossível, sabes bem... Lido com pessoas, não excluo nada, procuro, enfim, apoio para passar mais tempo sem ti. Ajuda nesta desintoxicação que me deixa uma ressaca tão longa. Amizades, que me têm ajudado muito mais do que imaginava.

E por vezes encontro pessoas que me fazem pensar que é possível, o mundo sem ti a meu lado. Que é possível, olhar em frente, pensar por mim, apenas, não me afundar mais. Encontro paz. Carinho. É possível, seguir comigo mesmo. Pessoas com quem volto a ser quem conheceste.

És República, agora procuro a Verdade e a Paz. Amo, mas de outra forma.