quinta-feira, setembro 09, 2004

Uma outra vez

Pensei muito, antes de decidir se devia ou não aceitar a tua proposta. Não que não gostasse de te ver uma última (até uma próxima) vez. Mas, depois daquela despedida, não sabia se revermo-nos não faria apenas tudo mais difícil. Não seria melhor simplesmente deixar tudo como está? A última lembrança ser o risco das lágrimas nas caras bronzeadas? O sorriso triste de quem deixa fugir aquilo que mais queria, porque assim tem de ser, porque já o sabíamos desde o início, que seria assim? As mãos estendidas, num último toque, enquanto o comboio arrancava, implacável na sua viagem que não admite as demoras do amor?

Não. Precisava ver-te uma vez mais. Para saber de forma mais ponderada, menos emotiva, just where do we stand, exactly. Para passar mais algumas horas contigo. Para saber que, mesmo que nunca nos revejamos, há um lugar especial nos nossos corações que será sempre do outro. Para mais uma vez beijar-te num sorriso que me provoca sempre a mesma reacção. Para no verde dos teus olhos me fixar uma e outra vez, daquela forma que te intimida, fazendo ressaltar o teu sorriso mais tímido, completar os nossos pendões com o teu rubor.

Para, uma outra vez, sentir a tua respiração na minha orelha, o som de beijos misturado com palavras que desconhecia e aprendi a amar nos últimos dias. E a dizer, transformando-se uma língua num dialecto só nosso, onde podíamos gritar o nosso amor em frente a todos, sabendo que mais ninguém nos perceberia. Édeseeeem!, gritava. E tu vinhas a correr à varanda, sem que mais ninguém percebesse exactamente o que eu queria dizer, apesar de desconfiarem. Eu via na cara de todos, não inveja, mas a cumplicidade de quem sabe que está a presenciar uma celebração do amor, mesmo que não haja um libretto que lhes traduza exactamente o que se está a passar. Gritar "Amo-te!!!", em frente a todos. E saber que só tu ouvias, que só tu percebias. Que tinhas a certeza que era para ti e só para ti que eu falava.

Perceber finalmente que o facto de nos amarmos não significa necessariamente que tenhamos de sofrer com o afastamento. E que, se nos reencontrarmos, seremos tão felizes como fomos agora. Mas que se tal não acontecer, a memória que nos restará será sempre a mais feliz de todas.