terça-feira, fevereiro 22, 2005

Almoço, um café e um cigarro

Saio do café e vou para o carro, enquanto penso no café da D. Maria dos Anjos e vejo a mulher de, seguramente, mais de 60 anos que caminha na minha direcção, rua acima. Olho disfarçadamente na direcção dela, à distância não consigo ver bem quem é, mas olho disfarçadamente para ver se é alguém que não me sinta à vontade a cumprimentar (don't ask, as minhas incapacidades sociais são my business!). Sinto-me mais descansado quando vejo que não, não é ninguém desse lote de pessoas.. Posso seguir despreocupado. É quando nos cruzamos e sigo, invariavelmente, com os olhos pregados nos paralelos de granito azul, que sou repentinamente arrancado da invisibilidade que me esforço por manter. "Eu filha da terra, tu filho da terra e nunca soube que eras filho do Manel!", diz-me aquela voz gritada, enquanto aqueles olhos que parecem transpirar insanidade me põem mais e mais nervoso. Começo a pensar rapidamente, a correr a minha base de dados de habitantes locais. "Quem és tu? Devia conhecer-te?"

"Há dias é que perguntei à Maria ["Quem?"], 'Quem é este moço, que vejo-o tanto por aqui e não o conheço?', ela é que me disse que eras filho do Manel!"

"Pois... É a vida..." (É incrível como os lugares-comuns mais ridículos me ocorrem rapidamente nestas alturas...)

"Eu nem conheço a tua irmã!"

"Pois, ela saiu de cá já há muitos anos." (Abençoada!)

"Pois é, vê lá tu, vê lá tu!" (E percebo repentinamente de onde vem a minha mania de repetir as mesmas coisas, é "osmose-socio-cultural"...)

"Então boa tarde!", digo enquanto viro 10 graus que me faltava rodar o corpo há já quatro frases atrás.

Viver numa vila pequena dá-nos uma dose de diplomacia muito própria, penso enquanto entro no carro e tento saber quem é esta mulher afinal...