quinta-feira, maio 19, 2005

De volta a casa

Devido ao cansaço mortal que me entorpece as ideias e me entaramela os dedos (pois não são eles o veículo discursivo deste meio?), este é um post duplo.

Pela primeira vez desde há algum tempo, sinto hoje o amargo travo do fracasso. Orgulho-me de ser mais dotado que a generalidade dos utilizadores da informática em alguns programas relacionados com a imagem e o design gráfico. Por pura carolice, gosto pessoal ou vocação escondida e nunca convenientemente desenvolvida ("A soberba é um pecado mortal, Tiago!" - "Quero lá saber disso, ó meu ganda palonço!"), o facto é que há muito tempo que me habituei a fazer as mais variadas coisas (mesmo aquilo que outros fazem em programas mais simples) em programas relacionados com a imagem. Normalmente, pela simples razão de ficar mais bonito. E pelo controlo absoluto que essas aplicações informáticas permitem. Há anos que a minha graphic-suite fetiche é o Corel (Já sei, já sei, os puristas e profissionais da área acabaram de torcer o nariz. Mas sempre defendi que o Corel tem uma vantagem muito grande sobre outras aplicações mais potentes - o facto de cada utilizador poder retirar dele o máximo de acordo com os seus própriso conhecimentos. Um profissional consegue efeitos deslumbrantes, um principiante obtém resultados muito satisfatórios sem grande dificuldade. Eu não sou nem uma coisa nem outra, limito-me a tirar o máximo que consigo do Corel. E isso para mim é o exemplo perfeito de um aplicativo versátil, que é o que acho que um software relacionado com a imagem deve ser.). Hoje, quando uma turma inteira dependia de mim para a produção do trabalho final de 3 dias de aulas, falhei. Cansaço, stress, distração, falta de empenho de alguns dos restantes elementos. Tudo junto, deu origem num falhanço monumental. E mesmo que a responsabilidade seja repartida, é sobre mim que sinto o peso do fracasso. Fui eu quem não conseguiu, num software que só eu dominava por ali, obter os resultados necessários em tempo útil. E volto hoje a casa com a sensação de ter sido cilindrado pelos acontecimentos, ultrapassado pela voracidade do tempo que não pára. Felizmente que o professor compreendeu que, além dos erros cometidos, o equipamento também não ajudou, tendo atrasado irremediavelmente o projecto realizado. Daqui a pouco caio na cama e esqueço (espero!) o dia infernal que agora acaba, em que estive à beira de me tornar mal-educado com algumas pessoas. Coisa que, se não aconteceu, se deve sobretudo à presença e disponibilidade constantes de uma colega (querida Tânia!) que esteve ao meu lado das 14:30 às 21:30, tentando por todos os meios manter-me calmo, evitando que a minha natureza tornasse o ambiente (ainda mais) tenso.


Por outro lado, ainda não reuni a disponibilidade mental para pôr a escrita em dia após o meu regresso a casa depois deste fim-de-semana. Aos que se preocupam comigo, digo apenas de momento que não há qualquer motivo para isso (o que não quer dizer que não fique para sempre registada no meu coração a forma como me mostraram o vosso carinho e afecto). Muito pelo contrário. Com uma evolução improvável, este fim-de-semana teve o condão de me fazer sentir feliz, muito feliz. E nem os dias de stress e frustração conseguem abalar isso. Há coisas (e lugares e pessoas) que devem ser (e são) intocáveis. Posso apenas deixar desde já algumas notas para uma possível futura reflexão mais cuidada:

1) Madrid, como todas as capitais que conheço, é diferente do resto do país, sobretudo na atitude das pessoas (com tudo o que de bom e de mau - muito - isso tem);

2) O amor é como a vida - nasce nos lugares mais improváveis (lembrei-me desta frase esta manhã, quando reparei numa papoila que despontou em frente a minha casa, entre o asfalto da rua e o lancil do passeio):

3) Nada é certo na vida - sentimentos, reacções, relações, pessoas. Há apenas que fazer o melhor possível, manter uma postura digna de cada nova situação com que nos deparamos e deixar que o próprio evoluir dos acontecimentos nos indique qual o caminho a tomar de acordo com isso;

4) O Metro de Lisboa é mais bonito que o Metro de Madrid;

5) Em Madrid não sabem servir cerveja;

6) A noite é um momento de repouso - se não para o corpo, para o espírito;

7) Há, realmente, coisas bonitas demais para que se deixe que a frustração tome conta delas (tinhas razão).

Fico-me por aqui. Estou cansado e já cheguei ao ponto número 7 - além da lista já ir longa, é o meu número preferido (seguido de perto pelo 3), o que faz com que me sinta bem em parar por aqui.

Pensava agora que, no estado em que estou, devo ser mesmo idiota para ainda ter vindo aqui escrever isto. Perdoem qualquer exagero injustificado, o sono já não deixa muito discernimento. Mas talvez a minha necessidade de aqui vir regularmente devesse ser alvo de maior atenção da minha parte. De qualquer forma, boa noite e até amanhã...