sexta-feira, setembro 23, 2005

Junta a tua à nossa voz

Projectos adiados temos sempre muitos. Projectos que, por força das circunstâncias (mesmo que por vezes as circunstâncias sejamos nós quem as faz), ficam eternamente arquivados junto daquelas intenções que quase sempre demoramos uma eternidade a cumprir. Se é que alguma vez cumprimos de todo!

Há já alguns anos que o Avante me era interdito. Forças maiores de calendário, afinal o início de Setembro é, como podem imaginar, época alta de trabalhos arqueológicos - há que aproveitar o bom tempo!

Há já alguns anos que o Avante era um projecto adiado, particularmente na companhia do meu amigo Rui. Amigo, camarada, palhaço desta vida! O facto é que, este ano, não ia deixar escapar a oportunidade! Mesmo que para isso tivesse de convencer o Rui quando, à beira da data-limite, quis desistir... Mas fomos lá. Para ele, um regresso após 7 anos de ausência. Para mim, a primeira experiência total no Avante - só tinha ainda tido oportunidade para curtas visitas, nunca os 3 dias.

E, apesar da companhia ter sido a melhor possível ("a pedra a quem a trabalha, camarada, a pedra a quem a trabalha!!!"), tenho de dizer que a melhor de todas as surpresas foi o facto de, ao contrário do que imaginava, ser-me possível apreciar tanto os momentos em que estive sozinho. Como a tarde de Sábado, em que a solidão não era um estado de espírito. Estive sozinho. Mas será possível estar-se só no Avante? Creio que não. E o caminho entre o Auditório 1º de Maio e a máquina de imperial mais próxima, com paragem pelo relvado, tornou-se obrigatório. Para ver e ouvir um Realejo, numa demonstração de como não é o calor doentio (selva tropical, era só o que me vinha à memória) que impede a celebração, a Festa. Sozinho, imperial e cigarro na mão, calção de banho encharcado em suor, essa pareceu ser, por algumas horas, a indumentária obrigatória naquele espaço.

E por vezes, sentado na elevação defronte do Auditório, a ouvir os ecos da festa para onde iria retornar em breves instantes, pensava na solidão que não sentia, nas partilhas que, à distância, fiz com aqueles que amo. Antes de dar mais um mergulho na imensidão do calor e da música.