segunda-feira, agosto 02, 2004

E agora solta-me ou ama-me.

Se te esforçasses conseguias convencer-me, sabes bem. E ainda melhor sabes o difícil que me seria fugir da tua teia. És tu a aranha, aqui. Ambos temos consciência disso, é essa consciência que te torna irresistível, ao mesmo tempo que te dá força para agires como ages. Mas eu sei porque o fazes. E sei quanto te dói cada vez que te lembro os teus porquês. Nunca ficaste ofendida comigo por aquilo que te digo, mas sim pelo facto de acertar em cheio nos teus medos, inseguranças, naquilo que tanto te esforças por esconder.

Porque eu sei o que te leva a agir assim. Porque eu sei que, por mais emancipada e dona de ti mesma que te sintas, há coisas que te comandam mais do que gostarias de admitir. Porque ambos sabemos que o que te esgota tempo e energias não te satisfaz. Porque olhas à volta e vês outro tipo de felicidade nos outros. Acho piada à forma como te fazes de forte e finges que nada disso te interessa. Mas como em determinados momentos te distrais! Como em determinados momentos demonstras precisamente aquilo que te atormenta e te queima um bocadinho mais a cada dia que passa.

A solidão dói, não dói? Só um surdo não ouviria o teu tic-tac. Conheço-o, já o ouvi antes. E por mais que recuses sentimentos, tens vontades, paixões e há momentos em que és controlada por outro tipo de leis, que te toldam o discernimento. É quando deixas cair a máscara, para quem te consiga perceber. Porque nem todos repararam, não foi? És hábil, nesses jogos, de faz-de-conta para todos, de verdade ou consequência para alguns. É quando deixas cair a máscara e revelas, consoante a maré, que és afinal menina assustada e fêmea com cio.

E os homens são todos iguais, não é? Fazem-no porque querem, porque precisam, porque afinal não precisam de sentimentos para o fazerem. Sempre foram assim, todos, não é?
Deve ser por isso que uma recusa te custa tanto... Mas tu é que não percebeste nada. Por existirem sentimentos, precisamente, é que não há lugar a isso. Porque as motivações não seriam as mesmas, pois não? Se te esforçasses conseguias convencer-me. Ou enganar-me. E aí terias tido o que querias. Percebes agora?

Mas isso já não interessa, agora. Falhaste uma oportunidade que não voltas a ter tão cedo e possivelmente nunca mais. Vive com a incerteza do que sou ou não sou capaz de fazer, tal como eu vivo com a incerteza da possibilidade de ser feliz contigo.

E agora solta-me ou ama-me.