terça-feira, agosto 17, 2004

Exististe, apenas. E foi isso que me perdeu.

Faço-me ao caminho, na esperança que a viagem seja curta o suficiente para não te ires embora. Faço-me ao caminho e recordo a cada curva, a cada recta que supostamente me põe alguns metros mais próximo de ti, o teu olhar inquiridor, curioso. Vivo, no seu brilho próprio. Como se cada frase que dizes fosse sublinhada por uma expressão nos teus olhos, que lhe dá mais força. Que me perfura o coração. Sei que nada disto compreendes. Porque não sabes verdadeiramente o que sinto por ti. Tento uma ultrapassagem mal calculada, sou obrigado a travar repentinamente e quase acordo desta letargia em que me puseste desde o primeiro momento.

Para perceber que não tenho hipótese. Que não te terei comigo. Nem neste momento, nem no futuro. Que falhei mais uma vez, que inevitavelmente me iludi. E nem sequer posso enraivecer-me contigo, dizer que a culpa é toda tua, que és um ser humano desprezível. Que isso não se faz a alguém por quem se tenha um mínimo de consideração, quanto mais sentimentos! Porque não fizeste nada. Exististe, apenas. E foi isso que me perdeu. Seres quem és. Não podias ser mesquinha, ou arrogante? Neste momento, bastava que tivesses um tique nervoso irritante qualquer...

Não. És como és... Um ser humano maravilhoso... Repito-o baixinho, quando paro no semáforo. Como uma verdade absoluta. Porque o é, de facto. Fraquejo novamente, da forma mais consciente possível. E desejada. Porque posso ser o mais injusto possível, dizendo todo um chorrilho de mentiras só para me sentir melhor. Mas isso não apaga os meus sentimentos por ti.

Eles existem por si mesmos. E não é o teu afastamento que os apaga. Nem a minha vontade. Arranco, já próximo do destino, consciente de te ter perdido. Ou talvez apenas tenha chegado atrasado ao cruzamento. Vemo-nos no próximo.