sexta-feira, março 25, 2005

Da relatividade do Tempo

Acordo sobressaltado e o meu braço procura instintivamente por um corpo que, estivesse eu consciente, saberia que não está ali. A ausência que sinto e que inconscientemente tento ignorar, como que a convencer-me que não existe, faz-me procurar com mais afinco, apenas para constatar um facto que, à partida, não é novidade para mim. Não estás aqui ao meu lado, não sinto o teu calor para me entorpecer nos braços do sono mais rapidamente. Não escuto a tua respiração para me embalar lentamente num ritmo que a noite conhece bem. Tal como não é o teu corpo que me serve de repouso a um braço cansado destes dias em que tanto se agita, tentando imprimir eloquência a discursos erráticos.

Instantes mais tarde começa a formar-se na minha cabeça uma ideia mais real, menos toldada pelo sono abruptamente interrompido. Não estás aqui. Nem é suposto que estejas. Então para quê procurar algo que não existe e que sei não existir? Talvez para me fazer ver mais uma vez que algo está em falta. Que, pura e simplesmente, o quadro não está completo. Não sem ti. Não sem acordar a meio da noite para te aconchegar um pouco mais no nosso abraço nocturno.

Falta pouco. Muito pouco. Menos ainda do que tinha ideia, surpreende-me esta voragem do Tempo, dos dias que parecem fugir-nos nas mãos. Se é assim nestes momentos, como será em alturas de maior felicidade? Nos momentos que se avizinham e que cada vez mais me parece ser necessário viver de forma absoluta, como será? Perguntam-te por medos. O medo que tenho neste momento é de que o Tempo passe tão rapidamente que, quase sem me dar conta, acorde novamente sem te ter comigo.