terça-feira, março 08, 2005

O 8 de Março mediático

Eu já andava com dúvidas, mas desta vez tive a confirmação:
a SIC é a cadeia portuguesa de televisão com o sexismo mais profundo. E mais dissimulado. Posso desde já imaginar nas vossas mentes a interrogação, a dúvida que se insinua "Então e a SIC Mulher?...". A SIC Mulher é o exemplo mais acanado desse mesmo sexismo. Serve para o mesmo que as revistas femininas, universo a que já me referi noutras ocasiões.

Mas hoje, dia 8 de Março, é o dia em que a SIC mais sublimemente exerce um machismo latente (facto que, afinal, é facilmente compreensível, tal como um cão reflecte a personalidade do seu dono, também uma cadeia de televisão reflecte o penteado do seu accionista maioritário). Ao almoço, o Primeiro Jornal debita reportagens dedicadas ao dia. Daquelas que vocês sabem. Com mulheres de sucesso, para fazer esquecer as outras todas, numa suposta onda positiva que querem que varra este país. Positiva e revisionista, mas positiva. O primeiro caso é o de uma empresária de sucesso. Trinta segundos mais tarde, já me foi dito que a dita empresária de sucesso o foi "à força", devido à viuvez. Ou seja, contam-nos a história, supostamente exemplar do espírito empreendedor e de liderança feminino, da mulher que se tornou empresária porque o marido morreu, para evitar a perda do negócio. E o melhor que conseguem/querem arranjar é uma pessoa que "precisou" que lhe começassem o negócio para se tornar numa "empresária de sucesso"?!

Já o segundo caso é muito mais interessante, exótico pelos parâmetros televisivo-generalistas portugueses: a mulher numa "profissão de homens"! A primeira bombeira municipal da Figueira da Foz em décadas! Ou seja, em vez de uma reportagem que se questiona o porquê de só agora isto acontecer, ouvimos o comandante e colegas e o ar compenetrado da bombeira a fechar a viseira em fim de reportagem. Só faltou a banda-sonora do "Academia de Polícia" e a paródia ao esforço e trabalho de uma pessoa tinha ficado completa.

Aliás, há que pensar melhor nessa questão das "profissões de homens". O facto é que, olhando para essas profissões que querem à viva força que chamemos de "tradicionalmente masculinas", vemos sobretudo profissões físicas e com índices de perigosidade mais elevados. O que não deixa de ser curioso, sabendo nós que as profissões que se opõem a estas, as de chefia, são (sempre foram) maioritariamente ocupadas por homens. Das duas uma, ou a existência e manutenção desta expressão (profissão tradicionalmente masculina) no léxico quotidiano português, alimentada pelos meios políticos e mediáticos, tem como objectivo convencer-nos de que as mulheres têm reservado o mundo das chefias e altos cargos ou, então, que não trabalham...

Já que mais ninguém escreve, têm de levar com as minhas azias! ;-)