segunda-feira, abril 04, 2005

Ilustres barquinhenses - Gambé

Há já algum tempo que tinha a ideia de começar uma nova série aqui no Litanias. Uma série em que desse a conhecer ao mundo figuras incontornáveis da sociedade barquinhense. Figuras que, tenho a certeza, dificilmente de outra forma se tornariam conhecidas do mundo. Ora isso é um acto de serviço público, dar a conhecer ao mundo tais sumidades!

Para começar esta série, ninguém melhor que o Gambé!
O Gambé é, provavelmente, um potencial case-study ao nível dos distúrbios de personalidade relacionados com a percepção da realidade. É quase impossível, no discurso do Gambé, distinguir realidade de ficção e realidades ouvidas a outrém que ele refere como suas. Do alto dos seus 50 e alguns anos, que mais parecem 40, o Isaac (parte do nome verdadeiro, que Gambé é alcunha) consegue enovelar o raciocínio a qualquer um. Não só pela linha de pensamento errática que segue, mas pela forma onomatopeica que utiliza para se expressar. Além de expressões importadas directamente de Angola, como o "candengue", existem outras que cabem apenas no "imaginário-Gambé", como "blu", "dzedéun" ou uma entoação muito própria para dizer "maraaado!"... Conversar com o Gambé é uma aventura, posso-vos garantir.

O Gambé trabalha na construção civil. Arma ferro e rezam as crónicas que é um mestre do metier. De tal forma que, a dada altura, foi ter com um conhecido meu, funcionário de uma tipografia, para que ele lhe fizesse cartões de visita. Quando lhe pediram os dados, ele disse, simplesmente: "-------- Isaac, Engenheiro do Ferro"!

Melómano incurável, tudo aquilo que se pareça com música lhe chega para "curtir, yá, maluuuuco, dzedéun! Candengue!". Seria, provavelmente, o maior candidato a vencer o Campeonato de Guitarra Imaginária; não há melhor nessa difícil arte de tocar uma guitarra inexistente! Mas o seu amor pela música viria a ficar indelevelmente demonstrado há alguns anos quando, numa jam-session num bar com músicos locais (alguns deles serão abordados nesta coluna futuramente), inesperadamente o Gambé se apodera do microfone. Perante uma plateia que ultrapassaria seguramente as 200 pessoas e a banda a tocar, o Gambé não aguentou mais. E cantou. Ou melhor, deu um show de scat, porque metade do que ele disse não se percebeu. Mas, ainda assim, deu para perceber que ali fora cantado um improviso dedicado à amizade e a todos nós que ali assistíamos, extasiados, aquele momento mágico. Jamais esquecerei o refrão desse hino pungente a todos nós que ali estávamos: "E os amigos dos amigos/I wanna see, I wanna get, yeah!"... Ah, belos tempos...

No campo político também tem sido um elemento activo. Tal como naquelas comemorações do 25 de Abril em que, bombeiros e sumidades locais perfiladas frente aos paços do concelho, o Gambé mostrou mais uma vez que é um one-man(and no instrument)-show invejável, tocando 5 instrumentos imaginários simultaneamente, atrás da formatura dos bombeiros.