Classificai, mas com cuidado
Tomar uma dada região como um todo é, muitas vezes, um erro. Apesar das semelhanças internas dentro de uma mesma região, subsistem sempre particularidades que tornam as localidades, o carácter dos seus habitantes e os seus códigos de relacionamento social em realidades subtilmente diferentes. É o caso das localidades que, sendo vizinhas, uma é, tradicional e historicamente, agrícola e a outra comercial, por exemplo. É uma perspectiva analítica, é um facto. Corremos o risco de estarmos, com estas subdivisões sucessivas, a desmultiplicar realidades que somos, conceptualmente, incapazes de manusear e a criar entraves ao discurso, pela excessiva quantidade de unidades distintas que utilizamos. Além disso, dizer que uma localidade é "agrícola" ou "comercial" ou "industrial" prefigura em si uma abordagem tipológica. Ao utilizarmos um conceito para definir uma localidade estamos, a priori, a engavetá-la numa categoria, numa tipologia que, se bem que inteligível, não é necessariamente a forma mais correcta de abarcar a realidade.
Daqui se infere que em tudo (ou quase) na vida a confiança cega numa perspectiva analítica é, em si mesma, perigosa.
Daqui se infere que em tudo (ou quase) na vida a confiança cega numa perspectiva analítica é, em si mesma, perigosa.