Um cientista também tem inquietações com o sobrenatural
Terminou há pouco o dia que, ao longo do ano me coloca mais dúvidas acerca da superioridade que, no meu raciocínio, persiste no conhecimento científico. Não quero com isto dizer que coloco o conhecimento científico (no sentido académico) acima de todos os outros. Mas, cientista como gosto de me considerar, acredito que determinado tipo de fenómeno tem obrigatoriamente de conter uma explicação científica. Não é o 5 de Maio que me provoca tais calafrios, mas sim a Quinta-feira da Ascensão. O Dia da Espiga, estão lembrados? Foi hoje/ontem.
Lembro-me bem destes dias na minha infância. Na altura, quando saía das aulas ia sempre para casa da minha avó, que fica no mesmo largo do local de trabalho do meu pai. Às 5 e meia, quando ele saía, trazia-me para casa. E nestes dias já sabia que, chegado a casa da minha avó, tinha de ir com ela, apanhar "a espiga". Outro pormenor tradicionalmente cumprido era o do "pão do ano". Um pão que, guardado desde a Quinta-feira da Ascensão do ano anterior, se mantinha, estranhamente, sem se estragar, até ao ano seguinte, ficando apenas mais duro, como se fosse tostado. E que devia ser consumido nesse dia, provavelmente como forma de garantir boa sorte.
E aqui residiu sempre a minha intriga! Ainda hoje, certo como após dia 5 vir dia 6, lá estava ele, o famigerado "pão do ano" à minha espera, impávido na sua estaladiça dureza. E mais uma vez o meu paladar comprovou aquilo que a ciência não me explicou nunca e a gerência doméstica continuada da minha mãe formulou novamente ao jantar: "o que eu sei é que qualquer pão que fique uma semana guardado ganha bolor, que estou sempre a deitá-lo fora e o que se guarda neste dia aguenta sempre um ano!". Mesmo não compreendendo o fenómeno, confirmo-o, com tudo o que isso abala a minha crença na ciência.
Enfim... É altura de deixar interrogações metafísicas e olhar em frente. O Dia da Espiga já lá vai e novos dias despontam por aí. Novos e melhores, felizes por felicidades alheias a que, contudo, não posso ficar alheio. E que se tornam também minhas. Por osmose. Sentimental.
Lembro-me bem destes dias na minha infância. Na altura, quando saía das aulas ia sempre para casa da minha avó, que fica no mesmo largo do local de trabalho do meu pai. Às 5 e meia, quando ele saía, trazia-me para casa. E nestes dias já sabia que, chegado a casa da minha avó, tinha de ir com ela, apanhar "a espiga". Outro pormenor tradicionalmente cumprido era o do "pão do ano". Um pão que, guardado desde a Quinta-feira da Ascensão do ano anterior, se mantinha, estranhamente, sem se estragar, até ao ano seguinte, ficando apenas mais duro, como se fosse tostado. E que devia ser consumido nesse dia, provavelmente como forma de garantir boa sorte.
E aqui residiu sempre a minha intriga! Ainda hoje, certo como após dia 5 vir dia 6, lá estava ele, o famigerado "pão do ano" à minha espera, impávido na sua estaladiça dureza. E mais uma vez o meu paladar comprovou aquilo que a ciência não me explicou nunca e a gerência doméstica continuada da minha mãe formulou novamente ao jantar: "o que eu sei é que qualquer pão que fique uma semana guardado ganha bolor, que estou sempre a deitá-lo fora e o que se guarda neste dia aguenta sempre um ano!". Mesmo não compreendendo o fenómeno, confirmo-o, com tudo o que isso abala a minha crença na ciência.
Enfim... É altura de deixar interrogações metafísicas e olhar em frente. O Dia da Espiga já lá vai e novos dias despontam por aí. Novos e melhores, felizes por felicidades alheias a que, contudo, não posso ficar alheio. E que se tornam também minhas. Por osmose. Sentimental.